Este Blog é voltado especialmente para a formação dos Servidores do Altar da Paróquia da SS. Trindade da Arquidiocese de Belém, bem como para todos aqueles que amam a Santa Madre Igreja Católica e sua Sacratíssima Liturgia.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

História da Devoção à Nossa Senhora de Nazaré

O nosso coração mariano e paraense já se enche de alegria, pois se aproxima nossa grande festa, o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, se por um lado muitos são os devotos, por outro poucos destes conhecem a história desta devoção. Neste sentido, apresentaremos de modo breve os caminhos singrados até o círio tornar-se o que é hoje.




A tradição sugere que a pequena imagem foi esculpida por São José, na presença da Virgem Maria, por isso ela foi chamada de Nazaré, já que esta era a cidade na qual a sagrada família fez morada. A imagem foi levada à Belém de Judá por um monge, que fugia da perseguição romana, chegando lá entregou a imagem a São Jerônimo. Sendo perigoso mantê-la na palestina, ela foi entregue a Santo Agostinho que a enviou para um mosteiro em Mérida na Espanha. Três séculos depois, início do século VIII, a imagem teve que ser retirada da Espanha por causa da ocupação dos mouros, tendo sido seu novo destino Portugal, mais precisamente o monte de São Bartolomeu. Neste lugar a imagem ficou escondida por cerca de quatro séculos, quando na manhã de 14 de setembro de 1182, dom Fuas Roupinho, alcaide-mor do Castelo de Porto de Moz e amigo do rei Dom Afonso Henrique, caçando um cervo que fugia em disparada, deparou-se a um abismo. Em meio ao grande perigo que estava, clamou a intercessão da Virgem de Nazaré exclamando: “Valei-me Nossa Senhora de Nazaré!”. Após a exclamação, o cavalo volteou com violência sobre os cascos traseiros evitando a queda mortal, após o milagre obtido pela intercessão da santíssima virgem, dom Fuas mandou construir uma capela naquele mesmo lugar em honra aquela por cuja intercessão sua vida tinha sido poupada. Após o milagre, a capela tornou-se centro de peregrinação de reis e navegadores, destaca-se o navegador Vasco da Gama que antes de sua viagem para as índias, recorreu à intercessão da virgem para o êxito de sua viagem.



Mudemos agora de tempo e lugar, estamos por volta de 1700 e o protagonista não é mais um nobre fidalgo português, mas um caboclo amazônico chamado Plácido. Este em meio a suas caminhadas pela mata, que eram certamente costumeiras, já que segundo a tradição Plácido era caçador, achou entre as pedras do igarapé Murutucu uma pequena imagem, que tratou de levar para casa. No dia seguinte para a sua surpresa a Imagem não estava onde ele havia deixado, ele então correu ao local onde a havia achado e lá estava ela, após inúmeras tentativas fracassadas de mantê-la em sua casa decidiu construir uma pequena capela naquele local. Após o achado da imagem, a devoção popular imediatamente começou, pois lá era caminho de muitos viajantes, já que o lugar do achado era próximo da estrada que ligava o Pará ao Maranhão. Pouco mais de vinte anos depois o bispo da época Dom Bartolomeu de Pilar esteve na capela atraído pela grande devoção que ali se consolidava, na ocasião Plácido sugeriu ao bispo a construção de uma nova igreja, cuja sugestão foi prontamente aceita, sendo erguida entre 1730 e 1744. Anos à frente, o então governador do Grão-Pará Fernando Coutinho, impressionado com a crescente devoção para ver a pequena imagem, decidiu então organizar uma festa pública para difundir a devoção a virgem de Nazaré.



Em três de julho de 1793, o governador determina que no final de setembro de cada ano se organizasse festejos em honra a Nossa Senhora de Nazaré no largo de sua ermida, devendo a imagem na véspera ser levada a capela do palácio dos governadores (hoje Lauro Sodré) a fim de ser transferida no dia seguinte novamente para sua ermida, surge aí a primeira procissão do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, que segundo o historiador Antonio Baena, teve a seguinte configuração “devotos de ambos os sexos concertados em alas, uma de mulheres em seges, e duas de homens a cavalo, e que ele (Governador) pessoalmente se adunaria a este religioso séquito indo também a cavalo logo após o veículo com a imagem” (cf. Compendio das Eras da Província do Pará, p. 227). Observamos assim que o primeiro itinerário do Círio foi entre Igreja de Nazaré e Capela do Palácio dos Governadores, sendo este modificado em 1882 pelo bispo Dom Macedo Costa, que de acordo com o Presidente da Província, Dr. Justino Carneiro, determinou que a partida do Círio fosse da Catedral do Bispado, em Belém.



Quanto à data, inicialmente estabelecida para final de setembro, o que não acontecia de fato, pois esta a procissão por vezes se realizava entre setembro, outubro e até novembro. Em 1876 um decreto fixou o último domingo de outubro para a festa. Em 1901 o então bispo dom Francisco do Rego Maia colocou em prática essa ordem que posteriormente foi modificada para sua data atual, segundo domingo de outubro. A última modificação que trataremos é relacionado a uma das maiores tradições do círio, a corda. Sua origem remonta o ano de 1885, quando na hora da procissão, a baía do Guajará tinha transbordado, para que a berlinda (que era puxada por bois) pudesse avançar, tiveram a idéia de lhe passar uma grande cora em volta, pedindo aos fiéis que a puxassem, dessa forma a berlinda pôde vencer o atoleiro e assim constituiu-se a tradição de atrelar uma corda a berlinda.



Referências



BAENA, Antonio Ladislau Monteiro. Compêndio das Eras da Província do Pará. Belém: Universiddae Federal do Pará, 1969.



COELHO, Geraldo Mártires. Uma crônica do maravilhoso: legenda, tempo e memória no culto da virgem de Nazaré. Belém: Imprensa Oficial do Estado, 1998.