Este Blog é voltado especialmente para a formação dos Servidores do Altar da Paróquia da SS. Trindade da Arquidiocese de Belém, bem como para todos aqueles que amam a Santa Madre Igreja Católica e sua Sacratíssima Liturgia.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Quaresma

Estamos iniciando a Quaresma, uma imprescindível preparação para a Páscoa. Este tempo nos recorda alguns eventos bíblicos da maior importância: os 40 dias do dilúvio e a necessária purificação da humanidade; 0s 400 anos em que o povo hebreu ficou escravo no Egito; os 40 anos que o povo de Deus passou no deserto até chegar à Terra Prometida; os 40 dias de Elias no deserto até chegar ao Monte do Senhor; os 40 dias que Jesus passou no deserto da Judeia, quando foi tentado pelo diabo. Sem que passe despercebido, há um fato único após cada um destes acontecimentos: o inevitável encontro com Deus, a renovação da fé, a renovação da vida. Rezo para que esta nossa Quaresma tenha o mesmo efeito em cada um dos nossos paroquianos, que seja um tempo de graça e de bênção para todos os que desejam se encontrar sinceramente com Deus.

No meu artigo da semana, escrevi sobre as tentações de Jesus no deserto, de um modo simples, é claro, mas na esperança de que seja útil para a reflexão deste domingo. Leia e, se quiser, faça o seu comentário:

“A Quaresma é um tempo de fé e de perseverança, uma experiência espiritual de fidelidade a Deus, de confiança. Mas não é um caminho fácil de andar, tantos os obstáculos e dificuldades que enfrentamos. São quarenta dias que nos recordam os atropelos da vida humana, a espreita do mal e do pecado, a tentação de viver sem Deus, mas também é um tempo de sentir a lealdade do nosso Deus e de Sabê-lo fiel ao sonho de nos ver felizes.

Neste caminho de fé, o Senhor nos dá a graça de um aprendizado que pode mudar a nossa vida de uma vez para sempre, tendo a Ele mesmo como mestre e guia. Não será um tempo só de renúncias, como alguns acreditam, mas de aquisições, de ganho real, de enriquecimento da alma, com notáveis conseqüências no corpo, na família e no trabalho.

Aprenderemos a enfrentar o mal que impera no mundo, que está ao nosso redor e também dentro de nós. Esse é, aliás, o primeiro ensinamento que o Senhor nos oferece. As três tentações de Jesus (Lc 4,1-13) são um alerta para que nós não nos indignemos apenas contra o mal que nos cerca, que vemos nos outros, nas ações destrutivas de quem parece mau por natureza. Também há um mal dentro de nós, em nossos pensamentos, em alguns costumes e atitudes, nas relações pessoais e familiares. O mal em nós é a primeira fonte do mal que está no mundo, que aparece nos jornais e na televisão. Se não tivermos cuidado, acreditaremos que isso é normal, uma espécie de autodefesa contra o mal que está nos outros. Não é verdade. É uma grosseira mentira do “pai da mentira”, que sempre nos quererá oferecer uma vida mais cômoda, espetacular, só de êxitos, recheada de poder. Foi o que ele fez com Jesus. Se ele tentou a Jesus, não pense que vai deixar você em paz.

Veja a atualidade da primeira tentação, a de tirar proveito para si mesmo de alguma situação, convertendo “pedra em pão”. Jesus poderia fazer isso, mas não deveria, e não o fez. Se tivesse feito, seria um atentado ao que Ele era. Que coisa difícil no dia a dia. Jesus nos ensina a fazê-lo: “não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”. Ou seja, por lealdade a Deus, nem tudo o que se pode fazer deve-se, de fato, fazer, porque não é lícito, não é correto. A lealdade a Deus é o antídoto.

A segunda tentação é a de ter poderes extraordinários e de poder exibi-los, atraindo os olhares, causando inveja, dando espetáculo de autosuficiência. Ninguém quer fracassar nem parecer fracassado. Cobram-nos algum tipo de sucesso. Por isso, há sempre alguém querendo mandar, mostrar autoridade, dizendo que pode isso, pode aquilo, e subjuga os mais simples e fracos. Para ter algum tipo de poder, alguns vendem literalmente a alma ao diabo. Jesus resistiu também a esse desejo tão humano, tendo como referência o mesmo princípio, a lealdade à vontade de Deus.

A terceira tentação é a ambição do poder pelo simples gosto do poder. Esse gosto pelo poder tem, para Jesus, o mesmo sentido de idolatria, e está sujeito às mesmas penas reservadas ao culto de ídolos, que é a troca da verdadeira religião, do amor ao Deus único, por interesses megalomaníacos, paranóicos, doentios, de cunho estritamente pessoal, fazendo exatamente o que o diabo quer. A internet, hoje, se presta muito para isso, expondo vídeos, sobretudo de jovens em situações constrangedoras, e outros de coisas estranhas e inúteis, atraindo a atenção de não sei quantos milhares de pessoas, que compactuam com esse tipo de idolatria e de violência a Deus. Disso tudo devemos fugir.

As tentações, infelizmente, não estão limitadas aos três casos acima, mas abarca formas distintas e cotidianas, experimentadas por todos nós. Genericamente, é a atração pelo mal a que estamos todos sujeitos, e o impulso para cometê-lo, especialmente, mas não só, nos casos em que nos achamos ameaçados. Todo cuidado é pouco. Devemos estar sempre vigilantes e rezar, como nos pediu Jesus: Senhor, “não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal”.

Boa semana a todos e boa e santa Quaresma.

*por Pe. Ronaldo Menezes

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